O Criador
foi pródigo com o Brasil”, afirma o papa. “Concedeu-lhe uma diversidade
de biomas que lhe confere extraordinária beleza”, continua. Mesmo
reconhecendo essa riqueza, papa Francisco chama atenção para outra
realidade: “os sinais de agressão à criação e degradação da natureza
também estão presentes” no Brasil.
A Campanha da Fraternidade, criada na década de 1960, sempre
apresenta essas situações em que se pede maior conversão do país para
uma vida mais digna. O papa reconhece o mérito desse tipo de iniciativa:
“Entre vocês, a Igreja tem sido uma voz profética no respeito e no
cuidado com o meio ambiente e com os pobres. Não apenas tem chamado a
atenção para os desafios ecológicos, como tem apontado suas causas e,
principalmente, tem apontados caminhos para a sua superação”.
Sobre o tema deste ano, papa Francisco reforça que entre os objetivos
da Igreja com a Campanha da Fraternidade estão as seguintes atitudes:
“contemplar, admirar, agradecer e respeitar a diversidade natural que se
manifesta nos diversos biomas”. E destacou o exemplo dado pelos povos
que vivem nesses biomas e que é preciso aprender com eles: “os povos
originários de cada bioma ou que tradicionalmente neles vivem nos
oferecem um exemplo claro de como a convivência com a criação pode ser
respeitosa, portadora de plenitude e misericórdia”.
Lembrando a sintonia profunda da vivência da espiritualidade e da
liturgia da Quaresma, enquanto se realiza a Campanha da Fraternidade, o
papa recomenda: “Trata-se de um convite a viver com mais consciência e
determinação a espiritualidade pascal. A comunhão na Páscoa de Jesus
Cristo é capaz de suscitar a conversão permanente e integral que é, ao
mesmo tempo, pessoal, comunitária, social e ecológica”.
O Papa termina a mensagem manifestando seu desejo de um tempo de
vivência significativo para as comunidades do Brasil durante a Quaresma
deste ano: “desejo a todos uma fecunda caminhada quaresmal e peço a Deus
que a Campanha da Fraternidade 2017 atinja seus objetivos”.
Leia a Mensagem:
Queridos irmãos e irmãs do Brasil!
Desejo me unir a vocês na Campanha da Fraternidade que, neste ano
de 2017, tem como tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da
vida”, lhes animando a ampliar a consciência de que o desafio global,
pelo qual toda a humanidade passa, exige o envolvimento de cada pessoa
juntamente com a atuação de cada comunidade local, como aliás enfatizei
em diversos pontos na Encíclica Laudato Si’, sobre o cuidado de nossa casa comum.
O criador foi pródigo com o Brasil. Concedeu-lhe uma diversidade
de biomas que lhe confere extraordinária beleza. Mas, infelizmente, os
sinais da agressão à criação e da degradação da natureza também estão
presentes. Entre vocês, a Igreja tem sido uma voz profética no respeito e
no cuidado com o meio ambiente e com os pobres. Não apenas tem chamado a
atenção para os desafios e problemas ecológicos, como tem apontado suas
causas e, principalmente, tem apontado caminhos para a sua superação.
Entre tantas inciativas e ações, me apraz recordar que já em 1979, a
Campanha da Fraternidade que teve por tema: “Por um mundo mais humano”
assumiu o lema: “Preserve o que é de todos”. Assim, já naquele ano a
CNBB apresentava à sociedade brasileira sua preocupação com as questões
ambientais e com o comportamento humano com relação aos dons da criação.
O objetivo da Campanha da Fraternidade deste no, inspirado na passagem do Livro do Gêneses (cf. Gn 2, 15), é cuidar
da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e
promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do
Evangelho. Como “não podemos deixar de considerar os efeitos da
degradação ambiental, do modelo atual de desenvolvimento e da cultura do
descarte sobre a vida das pessoas” (LS, 43), esta Campanha convida a
contemplar, admirar, agradecer e respeitar a diversidade natural que se
manifesta nos diversos biomas do Brasil – um verdadeiro dom de Deus –
através da promoção de relações respeitosas com a vida e a cultura dos
povos que neles vivem. Este é, precisamente, um dos maiores desafios em
todas as partes da terra, até porque as degradações do ambiente são
sempre acompanhadas pelas injustiças sociais.
Os povos originários de cada bioma ou que tradicionalmente neles
vivem nos oferecem um exemplo claro de como a convivência com a criação
pode ser respeitosa, portadora de plenitude e misericordiosa. Por isso, é
necessário conhecer e aprender com esses povos e suas relações com a
natureza. Assim, será possível encontrar um modelo de sustentabilidade
que possa ser uma alternativa ao afã desenfreado pelo lucro que exaure
os recursos naturais e agride a dignidade dos pobres.
Todos os anos, a Campanha da Fraternidade acontece no tempo forte
da Quaresma. Trata-se de um convite a viver com mais consciência e
determinação a espiritualidade pascal. A comunhão na Páscoa de Jesus
Cristo é capaz de suscitar a conversão permanente e integral, que é, ao
mesmo tempo, pessoal, comunitária, social e ecológica. Reafirmo, assim, o
que recordei por ocasião do Ano santo Extraordinário: a misericórdia
exige “restituir dignidade àqueles que dela se viram privados” (Misericordia vultus,
16). Uma pessoa de fé que celebra na Páscoa a vitória da vida sobre a
morte, ao tomar consciência da situação de agressão à criação de Deus em
cada um dos biomas brasileiros, não poderá ficar indiferente.
Desejo a todos uma fecunda caminhada quaresmal e peço a Deus que a
Campanha da Fraternidade 2017 atinja seus objetivos. Invocando a
companhia e a proteção de Nossa Senhora Aparecida sobre todo o povo
brasileiro, particularmente neste Ano mariano, concedo uma especial
Bênção Apostólica e pelo que não deixem de rezar por mim.
Vaticano, 15 de fevereiro de 2017.